6 de novembro de 2009

Parto humanizado é a melhor opção?

Acompanhada da pequena Luana, Fabiana Issa se orgulha da sua vivência como mãe e mulher quando, em casa, pode sentir o prazer de escutar o primeiro chorinho da sua filha.


Por Ivna Girão
especial para O Viver


Parto domiciliar, em casas de parto, normal, humanizado hospitalar ou até cesariana. Entre muitas opções de ‘dar à luz’, um grupo de mulheres, que frequentam o grupo Ishtar, decidiu pelo desejo de parir sem intervenções, cortes e sem a temida frieza dos centros cirúrgicos. Acompanhada da pequena Luana, Fabiana Issa se orgulha da sua vivência como mãe e mulher quando, em casa, pode sentir o prazer de escutar o primeiro chorinho da sua filha: “com o acompanhamento de obstetras de confiança, de enfermeiras e amigas, eu tive várias horas de trabalho de parto e pude parir com segurança e tranquilidade, sem cortes nem intervenções violentas. Foi tudo muito bonito e me senti empoderada, forte tanto como mãe e mulher. Foi um parto domiciliar que até hoje me emociono só em lembrar”, frisou a jovem que atualmente milita pelo fim das “desnecessárias” cesarianas feitas, segundo ela, de qualquer modo e sem recomendação, apenas por uma “comodidade médica”. Com reuniões mensais em Fortaleza, o grupo Ishtar está aberto à participação de grávidas e futuras mamães que têm a vontade de parir como ‘antigamente’.


Escutando atentamente cada dica e informação repassada no encontro com a médica obstetra, Bárbara Schwermann, que há muitos anos não faz uma cesariana, Daniele Medeiros, grávida de 35 semanas, optou pelo parto humanizado e já se prepara para a chegada ‘natural’ do seu bebê. Adepta à ideia de parir, a grávida encontrou no grupo um alento para a sua vontade em meio a tantos nãos de obstetras que, segundo ela, fazem cara ruim ao parto humanizado. “O Ishtar tem sido muito importante para eu tirar minhas dúvidas, ter mais informações e procurar especialistas que respeitem minha opção”, disse a jovem, acompanhada do esposo que também frequenta as reuniões. Fazendo roupinhas de lã para o herdeiro, a mãe fez perguntas sobre intervenções no trabalho de parto e como, com a ajuda das doulas, ela pode sentir menos dores na hora “h”. Ao seu lado, um futuro pai questionava à médica sobre como ajudar no momento do parto. “O que é uma simples conversa vira uma grande ajuda às mães apreensivas. Eu recomendo o grupo para todas as grávidas”, finalizou Daniele Medeiros.


Tentando equilibrar o desejo feminino com a preservação da saúde da criança, as participantes do Ishtar não são contra as cesarianas, apenas querem que a mulher seja respeitada em um dos momentos mais importantes da sua vida, afirmou Kelly Brasil, organizadora do grupo na capital. “Lutamos para que elas tenham o direito de parir, de ter um parto humanizado sendo com intervenções ou não. Infelizmente, vivemos em um mundo de ‘desnecessarianas’ em que muitas mulheres jovens e com saúde são obrigadas a fazer uma cirurgia, sofrerem cortes e levarem anestesias por uma praticidade médica e uma falsa economia dos planos de saúde. Onde vamos parar com tantas cesáreas e cadê o protagonismo e a participação ativa da mulher?”, questionou Kelly que, atualmente, é doula, termo usado para aquelas que se capacitam para acompanhar e ajudar no trabalho de parto.


Com os objetivos de fomentar discussões de temas sobre gravidez, parto, amamentação e cuidados com o bebê, o grupo atualmente reúne cerca de 20 mulheres e alguns pais para a promoção de um processo mais ativo da gestação assim como auxilio às gestantes na escolha do tipo de parto através de esclarecimentos, palestras, vídeos, leituras e relatos de vivências. Segundo Kelly Brasil, as reuniões mensais e a lista de e-mails são uma maneira de ajudar futuras mães a ter um maior conhecimento das “diferentes fases da gestação, incentivando a troca de experiências pessoais, com o intuito de diminuir as dúvidas e ansiedade desse momento especial para cada uma”. As reuniões trazem temáticas variadas: a próxima acontecerá no dia 21 de novembro e abordará o assunto da alimentação saudável com a presença de uma especialista.


No último dia 31 acompanhamos um encontro do Ishtar e, entre conversas sobre a fisiologia do parto, pudemos encontrar diversas historias de vida de mulheres que tiveram partos humanizados, de mães que tentaram ter um parto normal, mas não conseguiram e de outras que, já no final da gravidez, tiram as últimas dúvidas sobre o que fazer na hora em que o bebê decidir vir ao mundo. Elas compõem uma estatística pequena frente ao grande número de partos artificiais.


Contrariando recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) de que apenas 15% dos partos aconteçam de forma artificial, o País realiza aproximadamente 42% dos partos por cesariana no Sistema Único de Saúde (SUS). No sistema suplementar (serviços privados e planos de saúde), o número sobe e pode chegar a 89%. Em 2006, por exemplo, o número já diminuiu, mas ainda está longe do ideal: foram realizadas pelo SUS no Brasil 2.139.493 cirurgias de parto, mais de 30% foram cesarianas.


SOBRE O GRUPO ISHTAR FORTALEZA
Fundado em abril desse ano o grupo surgiu da iniciativa de duas amigas, Kelly e Semírames, que possuíam um sonho em comum: humanizar a assistência ao parto em Fortaleza. O Ishtar atua nos seguintes princípios e valores: incentivo ao parto normal e natural; ao trabalho de enfermeiras obstetras, obstetrizes, parteiras e doulas; ao atendimento multidisciplinar a gestantes, parturientes e puérperas; à desmedicalização do parto; ao parto domiciliar, casas de parto e à humanização do atendimento e da ambientação hospitalar; ao uso das melhores evidências na prática obstétrica e à observância das recomendações da Organização Mundial da Saúde e ao aleitamento materno exclusivo até os seis meses e misto até dois anos de idade ou mais. “Além de tudo isso, somos amigas, torcemos umas pelas outras, acompanhamos os partos de cada uma e conversamos, desde assunto mais complexos até dúvidas mais simples de mães de primeira viagem”, disse Kelly Brasil convidando a população a participar do grupo.




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