24 de fevereiro de 2010

Artigo reúne diferentes experiências de parto normal e cesariana.


Analisar as diferentes representações e experiências quanto ao parto vaginal e cesárea de mulheres de diferentes estratos socioeconômicos é o tema do artigo 'Representações e experiências das mulheres sobre a assistência ao parto vaginal e cesárea em maternidades pública e privada', publicado na revista Cadernos de Saúde Pública (vol.25 no.11). A pesquisadora da ENSP, Karen Giffin, é uma das autoras da pesquisa - desenvolvida em uma maternidade pública, uma conveniada com o SUS e uma particular, com mulheres que tiveram os dois tipos de parto no Rio de Janeiro.

Andréa de Sousa Gama, da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Karen Mary Giffin, da ENSP; Antonia Angulo-Tuesta, do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos; Gisele Peixoto Barbosa, da Superintendência de Atenção Básica, Educação em Saúde e Gestão Participativa da Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro; e Eleonora d'Orsi, do Programa de Pós-graduação em Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina, são os autores do estudo.

As mulheres entrevistadas pelos pesquisadores foram estimuladas a comparar suas diferentes experiências de parto nas distintas modalidades de assistência à saúde. Ao compararem o parto normal e a cesárea, as puérperas de ambos os estratos socioeconômicos destacaram maiores vantagens para o parto normal. Foram elas: o protagonismo da mulher, as diferenças no cuidado médico, a qualidade da relação com o bebê e a recuperação no pós-parto. As representações quanto ao parto normal são de um parto ativo, no qual as dores são vividas como as 'dores de mãe'. Sinalizaram, também, que o parto normal é mais saudável para o bebê e a mulher, por ser algo mais natural. "Pode-se afirmar que a passagem do status de mulher para o de mãe, mediada pela cesariana, perderia parte de seu sentido, tendo em vista a anulação do protagonismo feminino no momento do parto", afirmaram os autores.

A pesquisa investigou as vantagens e desvantagens da cesárea. Na primeira, ficou constatada a ausência das dores do trabalho de parto e a possibilidade da laqueadura. Como desvantagens, foram mencionadas as dores no pós-parto, as dificuldades de recuperação e os riscos inerentes à cirurgia. "Elas ressaltaram que a cesárea deve ser feita somente em caso de risco para a mãe ou o bebê", diz o artigo.

Além disso, os pesquisadores também perguntaram a opinião das entrevistadas sobre o aumento crescente de mulheres que fazem uma cesárea, a pedido ou não. O principal fator para elas foi o medo das dores do parto e o desconhecimento das vantagens do parto normal. Por outro lado, algumas mulheres do setor privado destacaram a possibilidade de programar o parto devido à vida agitada da mulher contemporânea ao invés de esperar pela imprevisibilidade do parto normal.

Dentre as informantes do setor privado, apesar de a maioria também ter nascido de parto normal, não acham que isso as influenciou no desejo de também tê-lo e atribuem a sua preferência ao parto normal porque são adeptas das 'coisas naturais'. No setor público, nenhuma evidência de uma 'cultura da cesárea' foi constatada. Ao contrário, a influência do seu grupo social pelo parto normal, as dificuldades da recuperação da cesárea e a representação de que esse procedimento cirúrgico retira da mulher o prazer de colocar o filho no mundo, apesar do manejo inadequado das dores do parto nas maternidades públicas, configuram um quadro de majoritária preferência pelo parto normal.

Os resultados da pesquisa demonstram que o modelo de organização dos serviços público e privado apresenta variações que produzem diferentes tipos de assistência e de relação entre os profissionais de saúde e as usuárias, dando forma a experiências distintas entre as mulheres pesquisadas. "A pesquisa desenvolvida confirma os resultados de outras análises que apontam para a preferência feminina pelo parto normal como uma vivência de protagonismo e de maior satisfação na cena do parto. Os modelos de organização dos serviços público e privado apresentam variações que produzem diferentes tipos de assistência e de relação entre os profissionais de saúde e usuárias, dando forma a experiências distintas entre as mulheres pesquisadas. As diferenças em torno do manejo da dor no trabalho de parto, a relação de continuidade entre pré-natal e parto e a confiança estabelecida entre médicos e pacientes do setor privado foram atributos importantes destacados pelas mulheres", destacaram os autores.

Fonte: http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/noticia/index.php?id=19736
 
 

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