16 de abril de 2010

Filhos de usuárias de maconha são mais estressados

A idéia popular entre jovens e adolescentes de que fumar maconha não faz mal nenhum pode estar colocando em risco não somente a saúde mental deles, mas a de seus filhos. Estudo brasileiro feito com bebês recém-nascidos de mães com média de idade de 16/17 anos que ingeriram a droga na gestação mostra que o consumo afeta o desenvolvimento neurológico do feto.

A pesquisa, conduzida por pediatras, psicólogos e psiquiatras da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), detectou alterações comportamentais nos bebês. Eles eram mais inquietos, desatentos e estressados, menos sensíveis a estímulos externos, choravam mais e tinham mais dificuldade de serem acalmados em crises de choro do que aqueles que não foram expostos à droga.
Em um universo de 561 adolescentes que deram à luz crianças saudáveis e no tempo certo entre junho de 2001 e novembro de 2002 na Maternidade de Vila Nova Cachoeirinha (zona norte de São Paulo), o grupo se concentrou em 26 que tinham consumido somente maconha (e não outros narcóticos), nos últimos três meses de gestação.
Para checar a ingestão da droga foram analisados os fios de cabelo das garotas e também as primeiras fezes dos bebês, onde também foram encontrados resíduos de maconha. As reações das crianças foram comparadas com as de outras cujas mães não tinham consumido nada na gestação.
Como elas foram acompanhados logo depois de nascer, influências do ambiente ficam praticamente descartadas. “Alterações no comportamento 72 horas após o nascimento sugerem problemas na formação do cérebro dos bebês”, afirma a médica Ruth Guinsburg, que orientou a pesquisa de doutorado da pediatra Marina Moraes Barros. “A maconha atravessa a barreira placentária e afeta a organização do sistema nervoso central do bebê”, explica.
“As mudanças que nós percebemos são sutis. Só de olhar para um bebê não dá para dizer que a mãe fumou maconha na gravidez. Mas esses sintomas devem ser observados por médicos para partirem para uma investigação. Se o bebê realmente foi exposto, são necessários alguns cuidados”, explica Marina. Segundo ela, a preocupação é como pode ser o desenvolvimento deles.
Sem carinho e um trabalho para desenvolver suas habilidades, na idade escolar suspeita-se que as crianças podem apresentar dificuldades de aprendizagem, memória e concentração ou se tornar agressivas. Para checar isso, o grupo pretende dar continuidade ao trabalho e analisar as crianças, que hoje estão com 5 anos.
“Claro que devemos considerar que há muitas variáveis ambientais, mas essas crianças já nascem com uma vulnerabilidade biológica”, comenta o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, que também orientou o trabalho. “A maconha tem mais de 400 substâncias químicas que atingem o cérebro dos bebês. Vamos ver agora quanto isso dura.”
O trabalho, acredita Ruth, deve ser visto como um alerta: “As pessoas acham que maconha não faz mal. E poucos estudos avaliam seus danos. Essa pesquisa mostra que não é bem assim”, afirma a médica. “Põe em xeque a tal suposta benignidade.”
O estudo foi publicado em dezembro do ano passado no Journal of Pediatrics e está descrito na revista Pesquisa, da Fapesp deste mês. 

AS CONSEQÜÊNCIAS DO VÍCIO
Peso do bebê: O consumo de maconha na gravidez mais que quatro vezes por semana é ssociado à perda de peso da criança e baixa estatura
Gestação mais curta: Algumas pesquisas mostram que o consumo no primeiro trimestre leva a nascimentos prematuros
Irritabilidade: Se nos adultos a droga causa uma certa moleza, os bebês apresentam o efeito rebote. É comum terem muitos tremores
Desatenção: Nos testes feitos pela Unifesp, era observada a capacidade de os bebês acompanharem com os olhos o movimento de uma bola vermelha em frente ao rosto. Alguns dos que haviam sido expostos à droga mal olhavam para a bola.

*Fonte: Meio Norte

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