14 de maio de 2010

Mulher brasileira opina pouco na escolha do parto.

Quase 90% dos nascimentos do país ocorre por cesariana.

São Paulo – O medo da dor, a preocupação com o bem-estar do bebê e com o próprio corpo são alguns dos fatores que tornam o parto um dos momentos mais delicados da gestação. Mas, com exceção da parcela da população que procura atendimento humanizado e pode pagar por ele, as brasileiras opinam pouco quando se trata de escolher a forma de parir.

A arquiteta Anna Amorim, 27 anos, sempre teve o desejo e a certeza de que teria um parto normal. Durante o pré-natal do filho Pedro, chegou a trocar de obstetra porque sentia que a cesárea era certa. O segundo médico, que atendia pelo mesmo convênio, deu um prazo: 40 semanas:

– Embora seja considerada normal uma gestação de até 42 semanas, ele avisou que não esperaria mais do que 40.

Na data marcada, ainda sem sinais do trabalho de parto, Anna foi avaliada.

– Ele disse que não ia dar certo. Eu acreditei.

Depois de passar por experiência parecida em sua primeira gravidez, a psicóloga Pérola Boudakian, 32 anos, decidiu contratar uma equipe especializada em parto humanizado para assistir ao nascimento da caçula Beatriz.

– Fui atrás do prontuário do primeiro parto e descobri que o médico havia forjado um diagnóstico para justificar a cesariana ao plano de saúde. Não quis arriscar passar por isso de novo – conta.

Pérola enfrentou 33 horas de um trabalho de parto difícil, mas fez valer sua vontade de dar à luz a filha sem cirurgia.

Humanização do parto é procurar fazer com que o nascimento seja o menos traumático possível para a mãe e o bebê, explica o obstetra Francisco Vilella. Mas isso tem um custo, que varia entre R$ 6 mil e R$ 8 mil.

– Às vezes fico mais de 12 horas acompanhando um parto – relata Vilella.

A remuneração pelo parto na saúde suplementar varia de R$ 300 a R$ 600.

– Uma coisa é ganhar esse valor com hora marcada para trabalhar, outra é viver de sobreaviso. Há 10 anos se faz campanha para diminuir as taxas de cesariana nos convênios, mas os números só crescem. Estamos em quase 90%, embora pesquisas tenham mostrado que só 30% das brasileiras fazem essa opção no início do pré-natal – afirma Olímpio de Moraes Filho, da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia.

Para ele, é preciso mudar o paradigma do atendimento obstétrico brasileiro. Uma saída para o problema seria os hospitais privados receberem verba dos convênios para manter uma equipe permanente de obstetrícia. A gestante faria o pré-natal com um grupo de médicos e o parto com aquele que estivesse de plantão.

- Pesquisa recente da Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que a mortalidade materna, a necessidade de transfusão de sangue e de internação em UTI é quase três vezes mais frequente nas cesarianas sem indicação médica do que no parto normal.

Fonte: http://www.clicrbs.com.br/pioneiro/rs/impressa/11,2854619,157,14385,impressa.html

Nota: Nem todo parto humanizado 'custa' 6 mil reais. É possível parir com dignidade por muito menos que isso, inclusive sem pagar nada além do que se paga ao plano de saúde.

Nenhum comentário: