15 de novembro de 2010

“As mulheres podem muito durante o parto”.

As doulas são acompanhantes de parto profissionais, que ficam responsáveis pelo conforto físico e emocional da parturiente durante todo o processo gestacional – pré-parto, nascimento e pós-parto.

E assim, como doula voluntária, Patrícia Merlin já acompanhou o parto de mais de 150 mulheres na Santa Casa de Maringá, no Paraná, pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Fez esse trabalho por dois anos e meio, mas sua primeira experiência ao parir, em 2003, foi frustrante. Ela conseguiu mudar a própria história e hoje faz um trabalho de ativista e militante, atuando no apoio a outras mulheres, que lutam pelo chamado parto humanizado.

O que é o parto humanizado?
As mulheres veem o parto de forma ruim, como algo feio ou sofrido, porque elas não conhecem o desenrolar do parto, não sabem como podem melhorar a experiência, não reconhecem seus direitos. Eu não defendo o parto onde a mulher é privada de comer, andar, fica presa a uma cama, impedida de ver seus familiares, impedida de gritar e verbalizar durante o trabalho de parto. Defendo o acesso a informação de qualidade e ao tratamento humanizado – que nada mais é do que tratamento personalizado, onde conta o desejo de cada parturiente, não se tratando de ser humano, de ser bonzinho, as pessoas confundem muito isso. As mulheres podem muito durante o parto, mas geralmente alguém diz que elas não podem nada e transformam a experiência em algo ruim.

Por que é mais vantajoso o parto normal?
A mulher que tem seu bebê através de parto normal, está informada sobre o procedimento e é atendida por uma equipe que respeita seus desejos, enfrenta o parto e vida de outra maneira. Ela descobre que é capaz de lidar com a dor e a adversidade muito mais facilmente do que pensava.O bebê corre menos risco de nascer prematuro, não corre riscos de ter problemas respiratórios típicos de quem nasce por cesárea.A mulher tem a oportunidade de vivenciar de forma ativa e lúcida um dos momentos mais marcantes da sua vida. O parto é transformador, traz um empoderamento e uma sensação de força inigualáveis e o pós parto é tranquilo, sem dores e sem medicamentos. Além disso, o parto normal reduz as chances de depressão pós parto e aumenta as chances de sucesso na amamentação.

Muitas mulheres temem ou não recomendam o parto normal por se tratar de uma experiência dolorosa e, algumas vezes, traumática ou humilhante, devido à eliminação de fezes e urina durante o parto.
O parto é um processo fisiológico, assim como fazer xixi ou cocô. Muitas outras coisas desse tipo acontecem durante o parto, porque é um momento de alteração hormonal intensa. Mas essas coisas são vistas como secundárias quando a mulher conquista o parto e as coisas boas que vêm com ele. Para mulheres que querem parir, é muito mais importante encontrar um médico que apóie. Para quem se preocupa com estas questões, fica claro que não houve acesso as informações relevantes sobre o parto. Sem contar que as equipes de atendimento ao parto estão habituadas a estes eventos. Ninguém fica comentando e geralmente a própria mulher nem percebe que aconteceu.

A técnica do parto na água fez sucesso a pouco tempo, principalmente depois que Gisele Bündchen divulgou ter feito o parto com essa técnica. Ela é recomendada? Quais são as precauções?
Nascer na água é tão recomendado quanto nascer de qualquer outra forma natural. O ambiente é favorável para a mãe, porque relaxa e faz diminuir a sensação dolorosa, e para o bebê que sai da água para a água. Qualquer mulher apta a parir fora da água, está apta a parir dentro dela. O maior cuidado que se deve ter é com relação a temperatura da água, que não deve ser muito alta para não baixar a pressão arterial, nem muito fria para não causar hipotermia no bebê.

Patrícia Merlin:
Nascida em São Paulo, em 1976, Patrícia Merlin mudou-se para Maringá no ano 2000. Idealizou e criou a rede de apoio a gestante em Maringá e depois partilhou com outras mulheres, que a ajudaram a fundar redes em Londrina e Curitiba. Nos grupos, o índice de nascimento por cesariana é baixo se comparado à média nacional. Apenas um terço das mulheres precisou fazer cirurgia, contra quase 85% do índice nacional.




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