5 de março de 2003

Março de 2003 - Primeiros contatos com a Santa Casa de Maringá.

Bom, eu já havia conversado com as enfermeiras responsáveis pelos hospitais que possuem convênio com a prefeitura para a implantação do programa de parto humanizado, antes de ir para o curso em São Paulo. Ambas se interessaram muito pela possibilidade de trabalharmos em parceria.

Estive conversando com a Miriam, enfermeira da Santa Casa de Misericórdia. Ela fez um workshop em Curitiba, com a Fadynha (e outros), por ocasião do início da implantação do programa e voltou muito empolgada com o que aprendeu. Mas acontece que ela está se desligando do hospital, por motivos particulares. Mesmo assim, me recebeu super bem, fechamos sobre o trabalho como voluntária, ela amou o material do curso de doula, disse que apesar de um pouco de má vontade dos médicos e da direção do hospital, o trabalho que está sendo desenvolvido até é legal e que a pessoa que vai substituí-la também pensa como ela.
Na verdade, ela está saindo muito na boa e já tem engatilhada a possibilidade de continuar trabalhando como voluntária também. Ela tem a idéia de treinar as outras voluntárias do hospital e tentar trazer mais gente pra trabalhar.

Como eu, ela tem certeza que o modelo humanizado é infinitamente melhor, mais justo do que o já enraizado e quer trabalhar neste caminho a partir de agora. Estamos pensando em uma parceria para o futuro.
Ela também trabalha num outro hospital, o Elefante Branco, que eu já mencionei nas listas. Foi construído para ser a maternidade municipal, mas até agora (2 anos depois) só funciona o atendimento de urgência para pediatria. Ele conta com um enorme estoque de materiais que poderiam estar fazendo “milagres” em outros hospitais, como cadeira de parto, berços aquecidos, camas, cadeiras de roda...tudo parado.

A secretaria de saúde mandou algumas pessoas para o work shop em Curitiba e o trabalho parou por aí, cada um teve que se virar pra implantar. Na Santa Casa, depois de alguns incidentes, ela, por conta própria, resolveu fazer uma espécie de cursinho pra gestantes, pra apresentar o hospital e falar um pouco sobre a conduta no parto humanizado. Mas essa iniciativa foi dela, nada a ver com secretária de saúde ou com a administração do hospital e ela decidiu fazer, pra tentar diminuir o número de maridos alterados, mulheres desesperadas. Lamentável.

Enfim, no meio disso tudo, me falou do curso de manejo e aleitamento materno, que será promovido pelo próprio hospital e é destinado a todos os funcionários, inclusive faxineiros e me convidou pra participar. Aceitei, é claro! E também vou na próxima reunião de gestantes, sexta – feira.

Parece natural que a gente queira que as coisas funcionem da maneira que achamos correta. A nossa certeza é mais certa do que a do outro... Pois bem, ontem, enquanto eu conversava com a supervisora de enfermagem da Santa Casa, aconteceram dois pequenos incidentes.
Um marido, nervoso por causa das dores da esposa, ameaçou bater no médico, exigindo que ele fizesse uma cesárea para que a mulher parasse de sofrer.
E uma outra gestante chegou chorando, com muita dor de cabeça, a pressão nas nuvens, acabou vomitando e conversando com ela, as enfermeiras "descobriram" que ela vinha passando mal há umas 2 semanas, mas que sequer contou pro marido.

Pra gente, pode parecer um absurdo um homem ameaçar um médico por causa de dores do parto ou uma gestante sentir-se mal e não procurar um médico pra saber se está tudo ok.
Mas, este hospital pelo menos, é particular e atende as pacientes do SUS através de um convênio com a prefeitura (por causa da implantação do programa de humanização) e eles só tem a função de receber a mulher no momento do parto. Ou seja, quase sempre não tem nenhum tipo de vínculo com esta mulher antes que ela chegue ao hospital. A orientação dada ao casal é responsabilidade dos postos de saúde, onde elas fazem o pré natal. E pelo visto eles não estão explicando tudo como se deve, não estão fazendo o papel de agente modificador.

De nada adianta implantar um programa de humanização do parto sem se preocupar em humanizar o pré natal, sem se preocupar em formar também a cabeça da gestante e do seu marido para que estejam preparados para o momento do parto.

Por isso, a gente talvez deva dar um desconto para as instituições que proíbem a permanência de acompanhantes. Na verdade a proibição é para acompanhantes desinformados, que nada acrescentam ao processo. Não quero dizer que acho certo, mas que a gente tem que pensar caso por caso. Do mesmo jeito que a nossa presença durante o processo tem que ser cautelosa, a do marido ou acompanhante também deveria ser.

A imagem de um homem gritando e ameaçando, deixando todo mundo nervoso, inclusive sua própria esposa, definitivamente não combina com o modelo de atendimento ao qual nos referimos, ao que almejamos para nós e para as mulheres que acompanhamos.

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