3 de maio de 2008

07/10/2005

Serviço completo!

Cheguei mais tarde que o habitual hoje e uma mulher havia acabado de ter seu bebê. Ainda gozaram da minha cara, dizendo que eu cheguei atrasada para o que provavelmente, seria o único nascimento da noite. Peguei fama de pé quente (pra eles, né?), por que basta dar a minha hora de entrar, que as consultas encerram, não há admissão e conseqüentemente nenhum TP.

A. estava sozinha no TP, com ocitocina na veia e bastante desconfortável. Começamos conversando sobre a evolução dela, nome, um pouco sobre o bebê, etc. Chegou cedo demais ao hospital e estava impaciente. Não ajudou muito no processo, queixando-se de toda orientação que era dada. Não queria se ajeitar na cama, não conseguia levantar a perna, nem ficar de lado. Comportamento típico de entrega, que dificulta muito as coisas, por que dá a impressão de que a pessoa não quer ajuda nenhuma, quando na verdade é bem o contrário.

Com muito custo, consegui que ela sentasse na cama, ergui o leito, arrumamos os lençóis, ela penteou o cabelo, pediu água. Pareceu mais à vontade com a minha presença. Quando cheguei, o último toque apontava 4cm de dilatação. Meia hora depois, às 20:30h, 6cm. O máximo que eu consegui fazer foi ficar ao lado dela, segurando a mão bem forte durante as contrações, acariciando seu braço, enxugando o suor dela e falando palavras de incentivo.

Às 22:30h, 8cm de dilatação, colo fino, bebê descendo. Antes disso, o soro escapou da mão dela e demoram pra vir recolocar. Ficaram especulando se a lentidão do TP era por causa disso, aumentaram o fluxo do soro. Colocaram o cardiotoco, tudo normal. Por volta de 23h, o médico cruza comigo no corredor e pergunta como estão as coisas. Sou sincera ao dizer que ela não está ajudando muito e ele entra no quarto para ver como ela está. Ele meio que deu uma chamada nela, não uma bronca, mas um sacode... E ela de repente se pôs a colaborar mais. Logo estava com dilatação completa e começamos a ensaiar a força que ela deveria fazer pra ajudar na decida. Eu segurava a mão dela de um lado e o médico do outro. Em poucos minutos ele diz: Vamos para a sala de parto. Ela pede que eu a acompanhe, eu olho pro médico e repito o pedido. Ele concorda!

Chega o dia da minha primeira entrada no CC, meu primeiro expulsivo no voluntariado!Ajudei-a a subir na maca, levei-a até a porta do CC e fui me trocar. Roupinha verde, toquinha, máscara, sapatinho e lá fui eu, feliz da vida!

Infelizmente as condições não são as melhores. Mulher deitada de barriga pra cima, pernas pro alto, ambiente impessoal. O médico me apresentou pra equipe e decidiram que me chamar de apoio é mais fácil do que me chamar de doula. Ela fez força umas 4 vezes e o médico decidiu pela epsio. Então, na próxima força, nasce o T. Todo sujo de mecônio muito espesso, não chora imediatamente. A pediatra inicia os procedimentos, sai uma quantidade preocupante de mecônio na cânula, chamam a pediatra da UTI neo natal.

A mãe está alheia ao que acontece, o bebê chora um pouco e ela me pergunta se está tudo bem. Digo que sim, que as pediatras estão cuidando dele e que já o trarão para ela. No fim, ele abre os olhos, chora com vontade, mas como ainda respira muito rápido, cansado, decidem descer com ele para a UTI. Ficará em observação. Ela parece ficar tranqüila com as explicações que recebe, pergunta pra mim se é só isso mesmo. Enquanto o médico sutura e epsio, a gente conversa sobre o que passou, ela ri de como estava mal humorada e de como não ajudava. Agradece à mim, não larga minha mão um só segundo. Agradece aos demais e pede a Deus pra que seu pequenino fique bem.

Saio do CC, dou de cara com a irmã dela, que estava o tempo todo com a gente durante o TP (nem mencionei, né?, a mulher atrapalhava muito, só falava coisas inadequadas, quando saía de perto era um alívio). Ela me pergunta por que o bebê não ficou no berçário e na mesma hora antes que eu possa responder, o médico entra na sala. Ele começa a explicar e ela fala em culpa.

Ele ficou um pouco perturbado com esse comentário, não por que houvesse culpa, mas acredito que seja por que a mulher nem esperou que ele explicasse direito. Depois, nós (eu e o médico) conversamos sobre a possível cesárea que seria encarada como salvadora, já que elas provavelmente pensarão que se tivesse feito a cirurgia, nada disso teria acontecido ou que teria conseqüências menores.... Mas o mecônio estava lá há tempos, não tem nada a ver com um TP demorado ou com a convicção do PN. Muito pelo contrário, já que a passagem pelo canal de parto pressiona o tórax, ajudando a expelir os líquidos.

O duro é que como nenhuma delas tem a menor noção do que é certo, errado, esperado, anormal, a situação vai ficar no imaginário delas da forma como elas resolverem interpretar. Provavelmente não adiantará nada ter explicado. Antes de ir embora, eu desci com a tia do bebê até a UTI e fiquei esperando até que ela pudesse entrar.

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