3 de maio de 2008

10/02/06

Puxa uma cadeira que o relato hoje é grande!!!

A maternidade estava lotada de recém paridas e não parava de chegar mulher pra ser examinada. No TP, só a AC. acompanhada da mãe.

Primigesta, 19 anos e muito pouco disposta a sair do lugar, ouviu com atenção tudo o que eu expliquei, as dicas que dei, mas não seguiu nenhuma delas. Não quis andar, por que a camisola é feinha, tinha vergonha. Não quis sentar, por que não consegue. Nem agachar, por que depois não levanta. Não quis tomar banho, por que levantar é difícil.

Nesses casos a minha ação fica muito limitada e eu forcei um pouco a barra, dizendo pra ela aproveitar que só estávamos nós duas, por que com o tempo o TP ia engrossar e ela ia precisar muito ajudar o corpo dela, pra ela ir treinando enquanto as dores estavam suportáveis.

Quando eu cheguei (mais cedo hoje, às 17h), ela estava com 2cm de dilatação e as dores começavam. A mãe dela tentava em vão tirá-la da cama e depois de muita conversa, ela decidiu ficar em uma cadeira, inclinando o corpo para a frente quando vinha uma contração.

Neste ponto do TP, outras 2 mulheres chegaram e eu direcionei a minha atenção à elas.

A J. ficou o dia todo andando na rua, foi em dois hospitais antes de ser admitida na Casa às 18:30h. Nesses dois hospitais, ela ficou o tempo todo ativa.

Uma outra grávida que estava com ela e fez o mesmo caminho, me contou que ela não parava um segundo, mas que estava muito concentrada. Quando ela foi admitida na Casa, estava com 4cm e um pouco cansada, preferiu ficar deitada.

Eu estava com outra menina, mas mesmo assim ia lá de vez em quando falar com ela. Deitada ela se contorcia de dor, mas ainda conseguiu normalizar a respiração. Depois de um tempo (pouco), sugeri o banho só pra tirar a nhaca da rua e ela foi. A mãe dela estava junto. Na volta ela sentou na minha bola e eu fiquei massageando as costas dela.

Ela levantou umas 3 vezes pra ir ao banheiro, fez xixi, fez cocô e vomitou também.
O médico tinha acabado de tocar (8cm), na quarta vez que ela decidiu ir ao banheiro.
A mãe dela tinha saído do TP também.

Diálogo:
J.: - Eu tô com vontade de fazer cocô.
Eu: É normal J., a cabeça do bebê está pressionando lá embaixo... (abaixei na frente dela)
J.: Acho que eu não vou fazer, não. Tenho o intestino preso.
Eu: Fica aí um pouquinho, por que pode ser que você realmente faça alguma coisa.
(não sei pq levantei, dei um passo pra trás, abri a porta do TP e vi o GO entrando na sala de consulta, no fim do corredor, nem sinal da auxiliar do postinho). Quando eu me viro:
J.: - Ele está nascendo.... (ela apóia as mãos no assento do vaso e ergue um pouco o corpo).
Eu: * * * * * * * * * (olho e vejo um líquido viscoso escorrendo... e cabelos) . Pensamento: pqp! Cadê todo mundo????? (abro a porta e chamo, tentando não demonstrar desespero: Fáááááátima!)
Dei o passo mais largo da minha vida pra chegar nela numa passada só!
Minha preocupação era esse menino cair na água.... Pedi pra ela tentar não fazer mais nenhuma força (e ela não estava fazendo) e coloquei as mãos por baixo, quase tocando a bunda dela. No que eu encostei a mão, a cabeça saiu, primeiro o "cucuruto" alongado e depois o giro feito na minha mão.
Eu: J. ... não faz força... (e eu olhando aquela carinha amassada, com os olhinhos bem cerrados) J.: Não façooooo..... (sussurrando)
Um ombro....
Outro...
Plumbt!
Muito líquido, a bolsa dela não tinha rompido até um pouco antes... E eis que o Pedro estava nas minhas mão! Com as costinhas viradas pra cima...

O GO e o resto do povo todo, chegou neste exato momento:
GO: Xúxus? (como ele me chama).... eita, que beleza! (risos)

Passei o bebê pra ele e fiquei alí acocorada num canto entre o vaso e a parede, segurando a mão da J. Ela com um sorriso mole no rosto. A enferemeira boquiaberta, a mãe dela vibrando, o residente pegando material pra concluir e um mundo de gente atrás desse povo, rindo, parabenizando, falando, saindo pra contar....

O GO virou ele de ladinho, ele fez xixi e o jato foi direto pra dentro do vaso, entre as pernas da mãe. Todo mundo riu!
Ele disse pra ela segurar, mas ela não quis, estava mole, tremendo... Eu também!

Depois ele vira pra mim e pergunta se está tudo bem.... Eu só ria, olhos marejados!

Enfim... o cordão foi cortado, o GO o levou ao berçário. Tudo bem com ele, 49,5cm, 3.700gr.
A J. ficou um pouco no vaso, esperando a placenta sair, mas depois decidiram levar ela pro leito e depois pro CC, por que ela teve um laceração média (não me perguntem quanto é isso, por que eu não dei atenção aos detalhes).

Depois que tudo se acalmou, ele veio falar comigo, não ficou bravo nem nada (não é do perfil dele ficar irritado com essas coisas). Ele agradeceu, perguntou se eu estava emocionada, se era a primeira vez, etc... Muita gente ainda veio perguntar como tinha sido.

A enfermagem ficou num misto de perplexidade e indignação, mas eu nem ligo. Nem tive culpa também, né? Quem imaginaria que a evolução dela seria tão rápida? Ela chegou às 18 e pouco e o bebê nasceu às 20:20h. O comportamento dela não se alterou durante todo este tempo. Sempre serena, sempre forte.

Eu fiquei toda boba, feliz, emocionada!
Quem nunca viveu isso, não tem idéia de como é lindo! Aquela cabeça macia e quente na sua mão.... girando e saindo sozinha... É muito... é demais!
Não é o primeiro parto em que eu estou presente, mas foi diferente por vários aspectos. Principalmente por que eu estava de frente pra eles, sempre vejo da perspectiva da mãe...

V., 42 anos, primigesta. Ela estava com a bolsa rota há mais de 12 horas e bastante ativa, mas o TP dela não engrenava e logo depois do nascimento do bebê da J., ela foi pra cesárea.

Acho que de alguma maneira o nascimento do P. contagiou o ambiente e a AC. finalmente decidiu começar a fazer alguma coisa para se favorecer. Ás 21 e pouco da noite, novo toque: 6cm (dilatou isso tudo sem sair do lugar!! Imagina se tivesse ficado ativa desde o começo??).

Ao mesmo tempo, a mãe deu lugar à sogra e a postura das duas era muito diferente. A mãe da AC. mal olhava pra ela e a sogra era a energia em pessoa!

Logo que eu percebi que a N. tinha um grande poder de influência sobre ela, chamei-a num canto e pedi pra ela tirar a AC. da cama, levar pra tomar um banho e aceitar as dicas que a gente ia dando... Animou um pouco, foi tomar banho, depois ela ficou muito tempo na bola, inclinando o corpo para a frente durante as contrações e dando espaço para ser massageada. No intervalo, ela encostava em mim (largadona!!) e a gente respirava junto, de olhos fechados, no mesmo ritmo.

A N. de mãos dadas com ela dando a maior força, trazendo água, falando sobre os próprios partos, incentivando, chamando-a de guerreira, que agora sim, ela estava ajudando, etc, etc.

Eu AMEI conhecer a N.!!!Antes da 1h da manhã, dilatação total. Ela pula para a maca e vamos para o CC. Foi super rápido também, duas ou três forças e lá estava a AB. Não teve epsiotomia e a dequitação da placenta foi ligeira!

Acompanhei o parto da S. também, mesmo sem ter ficado com ela no TP.
Ela veio transferida de outro quarto quando eu estava atendendo a AC. na fase em que ela realmente se apoderou do processo. Não foi possível dar atenção pra ela, mas dei umas dicas para a mãe e ela tentou massagear e incentivar a S. a sair da cama, mas ela não quis, respondia de forma bem agressiva desde o começo, mesmo expressando grande incômodo e estando em fase avançada do TP.
No CC ela pareceu mais calma e o parto chegou ao fim rapidamente, sem epsiotomia também!

Depois eu fiquei com a V. que fez cesárea. Entre o atendimento inicial da AC. e da J., eu tinha ficado um tempão com ela já, mas as contrações não eram efetivas e ela não teve nada de dilatação, mesmo se mantendo ativa, mesmo com indução. E a bolsa dela estava rota há mais de 12 horas...

Um comentário:

Rebeca Doula disse...

Como é bom reler após tanto tempo, muita identificação e emoção!