1 de outubro de 2008

30/03/06

A primeira cesárea.

Eu já tinha recebido o convite para acompanhar a cesárea de outras mulheres no voluntariado.

No plantão que eu vou, raramente um TP termina em cesárea. As cesáreas são raras e acontecem por fatores que determinam a necessidade antes do TP. Na verdade, elas chegam em início de trabalho de parto, mas já sabendo que vão fazer a cirurgia. Então não é comum que eu conheça a mulher, que tenha criado algum vínculo com ela.

A primeira cesárea que eu acompanhei, foi de uma adolescente, a B.

Eu ia resistir, mas ela chorou tanto quando recebeu a notícia da indicação, ela gritava que não queria e olhava pra mim como se eu pudesse fazer alguma coisa. Eu cheguei perto, segurei a mão dela e expliquei o que ia acontecer, que ela não precisava ter medo e ela me pediu pra entrar no Centro Cirúrgico com ela. Eu fui...

A minha limitação neste caso, tinha a ver com a minha própria história. Eu não fiz o escândalo que ela fez, mas chorei igual, por motivos diferentes. Eu sabia que ela precisa de mim naquele momento, mas foi muito difícil decidir, muito mesmo.

Naquela noite, tinha 4 mulheres em TP e chegou mais uma depois que eu entrei pro centro cirúrgico. Depois que ela foi levada para o CC, eu ainda acompanhei um PN na sala do lado.
Quando eu pude finalmente ficar com ela, o anestesista ainda estava preparando-a e como eu não o conheço, fiquei do lado de fora, espiando. Ela me olhava chorando e sussurrava: entra, por favor...

Fiquei ali, olhando os procedimentos e me vendo naquela situação.... Confesso que chorei também, um choro guardado a tempos e do qual eu nem mais lembrava.
Quando o anestesista terminou, o GO já estava na sala e me chamou pra entrar. Tomei fôlego e fui!

Eu já ouvi muita gente perguntar por que eu faço esse trabalho, ou se eu acho que a minha cesárea atrapalha o meu atendimento e até uns absurdos do tipo “você quer é que elas se dêem tão mal quanto você”, “seu interesse pelo processo é mórbido, parece que quer reviver a sua história infeliz, no PN dos outros”. É, tem quem fale este tipo de coisa.

Eu fiz o curso de doula antes de engravidar, então eu já queria fazer isso, antes mesmo de ter meu filho. Mas é claro que a minha experiência influencia meu trabalho. Acho que depois da minha cesárea, ficou ainda mais claro pra mim que as mulheres precisam saber como as coisas são, que elas podem e devem ter o controle sobre a própria gestação e sobre o próprio corpo.

Já se vão mais de 3 anos neste trabalho de conscientização, seja via internet, seja com as pessoas que eu conheço ou com quem eu tenho o privilégio de trocar algumas palavras, mesmo sem ter intimidade nenhuma. Eu não sou fanática pelo PN e sei bem a hora certa de me calar, por isso quando eu vejo que numa roda de mulheres não tem espaço para essa idéias, eu fico na minha. Lamento muito, mas fico na minha.

Enfim, acompanhar a cesárea da B., marcou um novo ponto de partida pra mim e curiosamente muitas coisas boas aconteceram desde então...

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