10 de março de 2010

Informações e escolhas fazem as mulheres mais seguras.


O nascimento a seu tempo. Bem simplista a frase, mas é a tradução do trabalho de quem se dedica à humanização na hora do parto e à disseminação do nascimento de bebês de forma natural. Aqui em Sorocaba, um espaço dedicado à maternidade ativa completa um ano de existência amanhã. É o Ishtar - Espaço para Gestantes, uma entidade nacional que surgiu primeiramente em Recife e que se espalhou por várias cidades do Brasil, com o objetivo de oferecer apoio à gestante e ao parto ativo.

Os encontros começaram timidamente em Sorocaba, segundo as doulas coordenadoras do grupo, mas o grupo foi crescendo e o número de partos naturais também. Bons frutos, como elas dizem. Em um ano de atividades e muitas novidades, as doulas Letícia Arruda e Carla Arruda, coordenadoras do grupo, notaram que muitos casais e mulheres estão em busca de informação sobre parto humanizado. Pensam que essa busca já devia existir e que com pouca divulgação dos temas relacionados, as mulheres ficam inseguras e vulneráveis, deixando de acreditar nelas próprias, nos seus corpos. Para elas, informação e escolhas fazem as mulheres mais seguras de si.

Letícia e Carla se conheceram por estarem entre as poucas doulas da região de Sorocaba. Em comum, elas tinham a vontade de montar um grupo de discussão para troca de experiências e informações para atender interessados da cidade e das proximidades. “Apesar de haver pessoas interessadas na maternidade ativa, ainda há muita carência neste tipo de grupo de apoio. Com essa vontade, nos conhecemos, trocamos idéias com outras doulas e veio a oportunidade de ter um Ishtar aqui em Sorocaba”, contou Letícia. “Juntamos então esse formato de grupo de troca de experiência e informação, com a nossa vontade de atuação como doulas e surgiu o grupo”.

O perfil dos participantes é amplo, variado. Segundo Carla e Letícia são mulheres que querem engravidar e desejam informações gerais ou indicação médica humanizada, mulheres em qualquer fase da gestação que procuram pelo grupo por curiosidade sobre o parto humanizado, ou por descontentamento com o obstetra atual ou ainda porque já estão com a ideia de ter um parto normal humanizado mesmo. “Já recebemos mães também com bebês nascidos que tiveram cesáreas e desejam parto normal no próximo ou que querem apenas dividir experiências sobre amamentação, por exemplo. Há ainda quem está a procura de doula e chega até nós para saber de nosso trabalho”, disseram. Homens também têm participado bastante e de forma ativa, o que para elas é motivo de enriquecimento dos encontros. Profissionais da saúde interessados no tema também marcam presença.

O parto é da mulher.

A maternidade ativa -gestação, parto, pós parto, amamentação - pautam os encontros, tornando-os flexíveis e diversificado. As recomendações da Organização Mundial para Saúde (OMS) para parto normal e fisiologia do parto são base para os temas-chave das reuniões e servem tanto de informação quanto de estímulo para a busca de conhecimento e desmitificação de alguns assuntos que as doulas consideram ‘culturalmente obscuros’, como dor do parto e a própria amamentação. Tudo isso com espaço aberto para os participantes tirarem suas dúvidas e compartilhar experiências. “Esse modelo já é um guia de como é a atenção humanizada. Estimulamos as escolhas com conhecimento, com proatividade. Além das informações, temos temas para relatos de parto e também indicamos bibliografia e profissionais que trabalhem a favor do parto normal aqui na nossa região”, explicou Letícia.

As doulas acreditam que a indicação de um profissional que seja realmente favorável ao parto normal possibilita que as gestantes consigam de fato o que desejam. “O parto é algo natural e instintivo, não há o que a mulher precise aprender para conseguir parir. Infelizmente, já que vivemos num país onde a porcentagem de cesáreas é abusiva, conseguir seguir seus instintos e parir com profissionais de confiança é algo difícil de encontrar. Existem poucos profissionais humanizados, que acreditam mesmo que o parto seja da mulher”, enfatiza Letícia.

Os encontros.

É numa sala agradável, cheia de almofadas e janelas que dão para árvores, cedida pelo Armazém Fruto Amarelo, que o grupo se encontra, a cada quinze dias, aos sábados de manhã, às 9h30. Letícia e Carla contam que o lugar tem uma energia incrível. Qualquer pessoa interessada pode participar e as coordenadoras pedem que a presença seja confirmada por telefone ou pelo e-mail divulgado no blog. Vídeos, livros, materiais e profissionais complementam o trabalho que é gratuito para os participantes. “Já fizemos caminhadas e nesse ano pretendemos ampliar as atividades com slingadas, encontros externos, mais convidados”. Além dos encontros por meio do Ishtar, Carla e Letícia oferecem o trabalho de doulas, aulas de shantala e atendimentos em acupuntura.

O Armazém Fruto Amarelo fica na rua Senador Vergueiro, 46.
O blog do Ishtar é o http://www.ishtarsorocaba.blogspot.com/
O e-mail é o espacoishtarsorocaba@gmail.com

Um encontro natural.

Letícia conta que se tornou adepta do parto humanizado ao engravidar de sua filha, hoje com quase 3 anos completos. “Na época descobri uma lista de discussão na internet que me trouxe muitas informações e eu tive uma experiência de parto maravilhosa. Tive um parto natural hospitalar, ao lado do meu marido. Foi bastante emocionante conseguir trazer minha filha ao mundo em seu tempo, em nosso tempo”.

Antes de terminar a formação em Terapia Ocupacional, Carla já se interessava em gestação e bebês, mas não tinha ideia de como juntaria isso à sua profissão. “Aos poucos fui lendo, fiz cursos e quando vi estava fora do meu trabalho e me dedicando totalmente ao ativismo pelo parto humanizado. E feliz demais”, comenta.

Além de muitas afinidades e coincidências, até no nome, as doulas resolveram fazer o grupo. “Logo, parece que por mágica, Carla engravidou e sua barriga junto com o grupo”. E Henrique nasceu em julho, em casa, com a Letícia como doula. “Os laços do Ishtar se estreitaram e essa é uma das histórias lindas que temos. Conhecemos muitas pessoas queridas e tivemos a felicidade de acompanhar partos e histórias que nos trouxeram muitas amizades”, fala Letícia.

Fonte: http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia.phl?editoria=33&id=258645

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