16 de fevereiro de 2005

Muito trabalho e o primeiro OF.

Hoje foi um dia bastante cansativo. O setor estava lotado de mulheres recém paridas, tanto no SUS quanto no particular, cirurgias e 4 mulheres no TP.

E: era um VBAC.
Quando eu cheguei ela devia estar com uns 6cm, sem soro, disse que não queria mais andar, pois tinha ficado a tarde toda andando no hospital e estava cansada. Ela aceitou massagem, cafuné e que eu segurasse sua mão durante as contrações, mas não estava muito disposta a se ajudar.
Conversei muito com ela no intervalo das contrações, tentando incentivá-la, dando força, ajudando a respirar.
O médico fez uns 4 toques nela e ela xingou todas as vezes.
Durante as contrações, ela parecia muito brava, me olhava com aquele olhar vago, mas com a cara muito fechada.
Em menos de uma hora, dilatação total. O médico veio e pediu que ela fizesse força durante as contrações, se tivesse vontade. Inclinei a cama dela, de forma que ela ficasse mais sentada do que deitada.
De repente, durante uma contração ela disse: ai, acho que me rasgou inteira, senti queimar! Chamei o médico e ele a levou para o CC. Vinte minutos depois, vejo o G. entrar no berçário. Um molecão cabeludo e muito branquinho!

L. primigesta, com soro. Não sei com quanto de dilatação ela estava quando cheguei, mas no único toque que foi feito nela, cerca de uma hora depois, ela estava com 7cm.
Eu tentei por muito tempo, tirá-la da cama, mas ela resistia. Disse que sentia tontura ao levantar e que preferia ficar deitada de lado. Aproveitei para fazer massagem na lombar, ela adorava. Uma coisa que resolveu muito bem com ela, foi passar uma toalha molhada na lombar e na barriga durante as contrações. L. não se continha, gritava mesmo, chorava fino, um ai, ai, ai, ai, ai sem fim e também dava tapas na parede! E eu ainda incentivava: - isso, grita, libera esses bichos! Demorou muito pra ela mudar este ritmo e passar a respirar melhor durante as contrações.
Propus um banho e ela relutou. Eu disse que ia junto, que a ajudaria, ela topou. Ela se encontrou naquele banheiro, ajoelhou e ficou apoiada no banquinho, deixando a água cair nas costas. Ela ficou muito relaxada e quase adormeceu. Infelizmente nesta hora o médico veio e pediu pra ela sair por que ele ia “tocar”!
Depois do toque, mais algumas contrações e ela disse: tá queimando, tá queimando, tá queimando, ai, ai, ai, ai, ai! Eu nunca tinha ouvido isso de uma mulher em TP, embora conheça o tal “círculo de fogo” e de repente, num dia só, 2 falam sobre ele.
Saí do quarto e chamei a enfermeira, ela demorou pra vir. A bolsa rompeu e a L. começou a se comportar diferente durante a contração. Eu disse: - Você está com vontade de fazer força? Ela: Muita! Corri atrás da enfermeira e quando voltei ela tinha feito cocô. Chamei a enfermeira de novo, ela ficou doida (médicos não gostam que bebês nasçam na cama do TP), limpou a L. rapidinho e nós a levamos para o CC. No caminho ela pediu: Vem comigo!
Infelizmente não tenho essa moral ainda, só respondi:
- Não posso, querida! Mas vai dar tudo certo! Boa sorte!
LP. Demorou um pouco para vir ao berçário, mas quando chegou não tive dúvidas...ele é a cara da mãe dele!

F., VBAC, chegou com 5cm, não colocaram soro. Calada, deitou na cama e virou de costas pra mim. Não respondia minhas perguntas, não olhava pra nós, não reclamava durante as contrações.
O médico colocou aquele aparelho que mede contrações e BFC nela e ela arrancou depois de um tempo. Pensei: hum...vai dar trabalho pra equipe, é turrona!
Conforme ela foi vendo a evolução das meninas (sim, pq eu estou contando separadamente, mas as coisas aconteceram ao mesmo tempo), parece que ficou mais receptiva. Pediu ajuda para pentear o cabelo, para tomar banho e andar pelo corredor.
Quando as outras 3 já haviam saído do TP e ela ficou sozinha comigo, começou a contar da vida, pediu massagem e foi banhar-se de novo. Ela ficou maravilhada com os efeitos da água!
Chegou minha hora de ir embora e ela me pediu pra ficar, ela não queria ficar sozinha. Fiquei, quase uma hora a mais que o normal. Foi ela que despertou aquele sentimento de que faço mais por elas do que pelas pessoas que me rodeiam, que comentei nas listas.
Quando eu saí, ela estava com quase 10cm. Desejei boa sorte e disse pra ela ficar tranqüila, que tudo dependia só dela e que em breve o C. estaria em seus braços.

I. não foi a última mulher a ser doulada, mas deixei o caso dela por último, por que...vocês vão entender....
Ela estava na maternidade há mais de 30 horas e a dilatação dela não evoluía. Estava estacionada em 5cm. Conversei com ela sobre caminhar e favorecer o TP, mas ela não quis sair da cama. Disse que se sentia bem como estava, pra eu não me preocupar com ela.
No fim, como as outras duas estavam realmente precisando de ajuda e queriam ser ajudadas, eu deixei a I. mais na dela....
No intervalo das contrações das outras meninas, eu conversava com ela. Ela me contou sobre a vida e falamos do bebê. Ela quis saber sobre amamentação e eu aproveitei para falar com todas sobre isso.
Quando o médico veio ver a evolução dela, eu não estava. Cruzei com ele na porta do quarto e ele estava dizendo: Prepara esta aqui para a cesárea.
Ela chamou a enfermeira e perguntou se era dela que o médico estava falando. A enfermeira disse que sim e perguntou: - Por que? Você não quer?
Ela ficou sem jeito e disse que tudo bem. Depois disse pra mim:
- Ele nem falou nada pra mim, podia ter conversado, poxa!
Então eu perguntei se ela queria fazer a cirurgia. Ela disse que não sabia, mas que estava cansada de ficar ali, queria acabar com aquilo. No fim, ela acatou a decisão do médico (não que eu ache que adiantaria alguma coisa não acatar).
Ela tomou banho, arrumou as coisas dela e me chamou. Perguntou como era, se demorava, se ela ia sentir alguma coisa. Estava com medo.
Tentei tranquilizá-la, dizendo que apesar de tudo a cesárea é uma cirurgia segura, pra ela ficar tranqüila que logo, logo ela estaria com o bebê nos braços. O que mais eu poderia dizer nesta hora?
Bom, eu estava lá na janela do berçário vendo o filho da L. tomar banho na Tummy Tub e os médicos entram correndo, mandando todo mundo sair da janela.... um bebê é colocado no berço aquecido e alguns procedimentos estão sendo realizados. Fico apreensiva, não sei de quem é este bebê.
Massagem cardíaca, oxigênio, bebê entubado. Sobem os médicos da UTI Neonatal e levam o pequenino embora. Era o filho da I.Ficamos sem notícias um bom tempo e quando a enfermeira do berçário retornou, nem precisou dizer nada. Estava escrito na cara dela...o bebê não resistiu.
Minha cabeça deu um nó. Só pensava em como ela estava feliz e nas coisas que eu tinha dito antes de ela ser levada ao CC. Me senti idiota, impotente, inadequada....

Fiquei no setor um tempo ainda, fui falar com as meninas que acompanhei no TP e que a esta altura já estavam em seus quartos. Elas agradeceram muito o apoio e conversamos bastante sobre a experiência de ter alguém ajudando, segurando a mão.
Além de acompanhar a F. neste momento, também estava socorrendo uma recém parida desmaiada, mulher rebelde que queria ir embora, mãe e bebê que não se entendiam na amamentação. Uma delas, ainda não podia levantar e o bebê precisava trocar a fralda. Lá fui eu pro berçário. Tive que lavar o F. na torneira (aquecida), muito mecônio! Enquanto eu estava lá, limpando e vestindo ele, percebo uma maca parar na minha frente, do outro lado do vidro. Era a I., a mãe do bebê que morreu. Ela ainda não sabia o que tinha acontecido e eu mal consegui olhar pra ela. Ela sorria.

Liguei no hospital no dia seguinte, pra saber o que havia acontecido com o bebê e saber como a I. estava.
O bebê nasceu sem a membrana que reveste o intestino e isso acarretou algumas complicações respiratórias. Não sei qual é a relação de uma coisa com a outra, mas vou pesquisar. Esse “problema” poderia ter sido identificado nas ultras feitas durante a gestação, mas as ultras que ela fez não eram boas e ninguém suspeitou. Se tivessem alguma idéia disso, poderia ter preparado o CC para a cesárea e a operação do bebê em seguida...
Por isso, como foi algo que independeu do atendimento da equipe do hospital, a assistente social disse que ela estava bem, que tinha entendido o que aconteceu.

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