Esta vivência fez com que eu me sentisse FAZENDO PARTE.
Pra mim, serviu pra que eu desse rosto aos nomes, por que o assunto me interessa tanto que eu tenho quase todo o conteúdo do site Doulas guardado em arquivo do word, assim como o conteúdo do Amigas e também as mensagens do grupo de discussão. Sem contar outros textos e artigos relacionados com o tema.
É claro, que ouvir da boca de vocês as experiências que viveram como mulheres na hora do parto e como doulas, só serviu pra reforçar a minha certeza.
As minhas dúvidas estavam relacionadas a pontos práticos da profissão, como por exemplo a questão da experiência, ou como oferecer o serviço particular. E agora, fica claro que cada doula trabalha de um jeito, mesmo na hora H, cada mulher se porta de maneira diferente e a gente, como doula, se adapta a cada uma delas também.
Se eu tivesse que apontar alguma coisa pra ser mudada:
-mais tempo de curso, três dias é intenso, mas é pouco.
-Mais recurso áudio-visual, fotos, vídeos, livros...
-Prática e teoria misturadas. Meio dia para cada um. Muita coisa que aconteceu no estágio, precisava ser conversada depois.
Ah, sei lá. Eu sinceramente, acho que foi muito bom. Pra mim nenhuma dessas coisas fez falta. Eu amei vocês, amei o curso e ainda estou extasiada com o estágio.Eu voltei outra pessoa pra minha casa. Graças a Deus e a vocês, acho que uma pessoa melhor.
As alunas.
Andréia
São José dos Campos – SP
Bióloga, professora em rede pública, cansada da violência, procura outro caminho pra seguir.
Mãe de dois adolescentes.
Na apresentação, ela contou sobre os seus partos, cesáreas. E disse que foi tudo bem, que achava que era necessário mesmo. Ao que Dorothe lançou: “Até o final do curso, seu conceito vai mudar”.
Muito calada. Quase não tivemos contato.
Cláudia
São Paulo – SP
Fisioterapeuta, querendo abrir uma clínica de saúde da mulher junto com uma colega, também fisioterapeuta.
Não sei se é casada. Sem filhos
Ficou encantada com o trabalho das doulas.
Muito curiosa e simpática. Fizemos juntas a vivência da aula de massagem.
Rita
Guarulhos – SP
Bióloga, fazendo um curso de amamentação, eu acho.
Mãe e avó. Seus partos (ou será um só? Não lembro!) foram normais, mas longe de serem humanizados. Ela falou da experiência com um pouco de pesar.
Eu gostei dela, mas as vezes parecia estar muito distante.
Siggi
Chapecó – SC
Alemã, vivendo no Brasil há 25 anos.
Cursa Técnico em Enfermagem e coordena uma casa de amparo à meninas grávidas, jovem mães e afins.
Mãe de 4 filhos. O 1ª nasceu morto, mas ela quis passar pelo trabalho de parto e desejava ter os outros filhos também de parto normal, mas não foi possível.
Muito fofa! Estava muito nervosa no 1ª dia, mas foi acostumando com a gente e no final parecia outra pessoa!
Socorro Moreira
Fortaleza - CE
Psicóloga
Mãe de Mário. Ainda elaborando o primeiro parto, uma cesárea de emergência marcada com 24 h de antecedência. E lutando pra conseguir um próximo parto que esteja mais de acordo com o que ela almeja. Defensora ferrenha do parto normal, da amamentação, do ser mãe e deste enorme universo. Pequenina e forte, ao mesmo tempo. Uma figura.
Maria Augusta (Guta)
Uberlândia – MG
Psicóloga, trabalha com gestantes.
Dois filhos adolescentes, a Camila e o Lucas. Experiências de parto muito bacanas.
Muito sensível, engraçada e inteligente.
Foi a pessoa com quem eu mais me identifiquei. Conversamos bastante, tanto quanto o curso permitiu.
O curso teórico.Apresentação.
De cara ganhamos uma pasta com o programa do curso, um caderno com o logo do Doulas do Brasil (lindo!), uma cópia do Dossiê de Humanização do Parto, uma cartilha dos Direito Humanos das Mulheres na Gravidez e no Parto, uma apostila com a teoria do curso e uma caneta.
Ana Cris e Dorothe se apresentaram, contaram suas vivências de parto e cada uma de nós fez o mesmo. Ficamos umas duas horas falando e descemos para o café.
Um super lanche, uma delícia!
Na volta, aula de massagem.
Lucia – Doula e professora de massagem.
A Lucia é uruguaia, chilena, paraguaia. Não importa, o que interessa é que ela tem aquele sotaque gostoso! (eu gosto, pelo menos!)
Não aprendemos a fazer massagem, mas a valorizar o toque.
Inicialmente, aquecemos as mãos e focamos a atenção na energia emanada, tocamos nosso próprio corpo, mentalizando luzes, sentindo o calor, avaliando a percepção.
Depois uma de nós ficou de olhos fechados e recebeu o toque de uma outra. A Lucia orientava onde focar a atenção, se na força, se na maciez, na maneira do outro de “procurar” detalhes, na nossa vontade de retribuir. A intenção foi fazer com que pudéssemos sentir a diferença no nosso estado de espírito antes e depois do toque. Invariavelmente, todas nós sentimos mais conforto, mais segurança, sensação de bem estar. E cada vivência durava uns 3 ou 4 minutos. Tempo entre uma contração e outra.
Também “simulamos” a dor do trabalho de parto. Uma de nós ficou deitada de costas com uma das pernas erguidas e a outra alongou a perna erguida até o limite da dor. Neste ponto a que estava alongando fazia um cafuné, afagava uma parte do corpo ou mesmo friccionava com força o local alongado e a dor parecia ficar menos insuportável.
O último exercício e pra mim, o mais legal. Uma sentada, encostada na parede, com as pernas abertas e a outra encostada nela, como se estivesse sendo embalada. Olhos fechados, respirando junto, tentando sentir o batimento cardíaco, um cafuné básico. Muito bom. Super relaxante, pra quem faz e pra quem recebe!
Hora do almoço.
Fomos num restaurante vegetariano, divino!
Ainda hoje chorei de saudade do manjar de coco com calda de framboesa!!!
- Anatomia e fisiologia do parto.
Assistimos um vídeo.
Mulheres parindo em uma casa de parto, na Alemanha (?). Muito bom.
Nele também tinha uma animação em 3D dos movimentos que o bebê faz no momento do parto pra conseguir sair.
A Ana Cris nos apresentou sua bacia de pano e seu útero de lã, com placenta, bebê e cordão umbilical. Muito lindo. E falamos mais sobre o que acontece com o corpo na hora do parto.
Cafezinho.
Situações distócicas no trabalho de parto e parto.
Foi isso, o que pode acontecer de não tão normal, no parto normal.
O que é ser Doula?
Não lembro quem falou sobre isso. Mas conversamos sobre o que a doula faz, o que não faz, sobre o reconhecimento como profissão e frente a OMS.
As ferramentas da Doula.
A bolsa, a bola, as massagens, o corpo, os ouvidos, as mãos. Junta-se à isso o bom senso e a sensibilidade e temos uma mulher pronta pra doular.
A bacia pélvica.
Agora fiquei confusa. A gente já não tinha falado sobre isso? São tantas as emoções que eu acho que misturei tudo!
Posições para o trabalho de parto.
Foi aqui que utilizamos a querida Débora como cobaia. Ela se comportou muito bem e a gente adorou ter o três bem pertinho!
Quanto às posições: com cadeira, no chão, de lado, com a cabeça mais baixa que o quadril, rebolando, na bola, agachada com o maridão atrás, etc. Uma enorme variedade de movimentos, por que o trabalho de parto e parto são assimétricos, precisa desestabilizar um pouco pro bebê poder sair. Que nem quando a gente tira um anel do dedo, sabe?
Recepção do recém nascido.
A gente não põe a mão, não é a gente que apara, mas pode ficar de olho pra ver se está tudo bem e nesta hora também ficar ao lado da mulher, dando o “boletim”. A Dorothe falou uma coisa muito legal.
“ Será que a coisa toda acaba aqui? Será que adianta a gente ter um parto todo humanizado, ficar feliz da vida com ele e deixar que isso acabe assim que o bebê nasce? Como é que vai ser o tratamento dele agora? O que será que vão fazer com ele? Como é que a mãe vai lidar com esta criança a partir de agora? Vai ser uma educação humanizada também?”
Ficam aqui as perguntas pra que cada uma de nós possa refletir a respeito!
Dr. Ricardo Herbert Jones
Palestra:
O nascimento no Brasil e sobre a evolução da espécie humana, antropologia do nascimento.
Um show! Dispensa apresentações.
Amamentação e profissão e a ética da doula
Foi mais um bate papo, na turma tinha a Rita, que também falou um pouco do trabalho dela com amamentação.
Sobre a profissão de doula, elas contaram como elas combinam o trabalho com as gestantes, quanto cobram, etc.
Angelina
Ela esteve presente, mas não deu nenhuma aula específica. O mais bacana foi a Isabela, filha dela, que fez a alegria da mulherada.
Ana Cris
Bióloga, doula, florista, webmistress, e pau pra toda obra!
A Ana é isso que a gente já conhece da lista, super atenciosa, fofa, engraçada...e eu juro que não estou puxando o saco.
Dorothe
Dorothe tem sotaque e eu adoro um sotaque. Ela também é doula, trabalha em equipe com o obstetra que fez o parto do segundo filho dela. Ela é muito bacana, muito verdadeira e aberta. E é brava também, deu várias broncas na gente, por que mulher fala demais.
O estágio.Cheguei 7:30 no Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros.
Metrô Belém, em São Paulo. Minha mãe e meu tio nasceram neste hospital.
Dia nublado. Garoa fina. Frio.
Entrei sem identificação e fiquei na porta do prédio da obstetrícia esperando as outras estagiárias/doulas chegarem: Ana Cris, Socorro Moreira, Zig e Guta. Sentia um frio no estômago, como em dia de prova no colégio.
Me chamou a atenção um rapaz de camiseta amarela, muito nervoso, agitado, cansado.
Entramos e, depois da parte burocrática e do pit stop no banheiro, seguimos para o centro obstétrico. Colocamos as roupas verdinhas de hospital, sapatinho no pé, gorrinho na cabeça e máscara. Me senti no seriado de tv americano E.R.
A essa altura, meu coração batia apressado, a boca seca, o estômago...já tinha congelado.
A Mônica, que eu não sei se era médica ou enfermeira, nos apresentou cada sala, explicando o uso e sendo muito receptiva às nossas perguntas, que foram poucas. No corredor 4 residentes. Conversando sobre assuntos pertinentes, ou não, não sei, não prestei atenção. Enfim, nos encaminhamos para a sala de pré-parto I.
Sala de pré-parto I
Quatro “leitos”, ar condicionado forte. Frio, pra mim.
Em cada leito uma mulher. Três delas estavam muito agitadas, gritando e gemendo alto, aparentemente com muita dor. Nessa hora a Socorro Moreira já estava com a Kátia, tentando acalmá-la. Das 3, era a mais agitada.
A Ana Cris entrou se apresentou, apresentou o grupo, tudo muito rápido, objetivo, direto. Como mágica, elas já foram se acalmando, nem dá pra acreditar.
Fomos nos distribuindo e cada doula se colocou ao lado de uma mulher.
A turma da manhã.
A Nilda seria preparada para uma cesárea, já marcada. Ficou com a Guta, até o momento em que a levaram para a sala de cirurgia. Nasceu o Bruno, que era pra chamar Vinícius, mas a filha mais nova (14 anos) da Nilda não se decidia. A história da Nilda é meio complicada. Ela, com 43 anos foi ao médico por causa dos calores da menopausa, ele “mandou” ela parar de tomar o anticoncepcional e ela engravidou no primeiro mês sem tomar o remédio. O Bruno é bem moreninho, pequeno, ainda lembro do tamanho da orelhinha dele...muito rebelde (rsrs), não quis mamar logo de cara, depois dava umas chupetadas enquanto a mãe dormia na sala de observação do pós-parto. Ela se queixou de muita dor na região do abdômen, mas estava tranqüila.
Kátia – 18 anos, 32 semanas de gestação. Chegou na maternidade por volta das 19 horas da noite anterior, o bebê nasceu + ou – 10h da manhã.
Fazendo a comparação que a Ana Cris costuma fazer, entre ursas, leoas e coelhas, a Kátia é uma arara, ou papagaio se levarmos em conta os palavrões. Ela berrou, esperneou, xingou. Estava muito, muito agitada mesmo. Aos poucos a Socorro deu conta de acalmá-la. Massageou, conversou, ajudou a Kátia a sentar, caminhar no corredor. Mas logo ela ficava alterada de novo. Algumas vezes, cheguei perto, pra ajudar à ela e à Socorro e ela dizia choramingando: “O que custa fazer uma cesárea? Pelo amor de Deus, chama o médico e tira esse neném logo daqui!!!” Num determinado momento a Socorro levou a Kátia para o chuveiro, lá ela começou a gritar muito e voltou para a sala carregada, meio desmaiada. Não sei exatamente o que aconteceu, não entrei em detalhes. Na seqüência, tiraram ela da sala e levaram para a sala onde tem a cama/cadeira de parto. Alguém me perguntou se eu queria ver e lá fui eu. Fui passando por trás de todo mundo (sim, tinha um monte de gente na sala) e me posicionei do lado esquerdo dela e da Socorro. Ela continuava reclamando da dor, que não aguentava mais, etc. Pra falar a verdade a Kátia é muito engraçada! Fizeram a episio de rotina, ela reclamou da dor, e falou com o jeitão displicente dela: “O que vocês tão fazendo ai?” Pediram pra ela fazer força e a gente pôde ver o cabelo do bebê. Ela não acreditava...”Dá pra ver nada! Mentira!” Mais uma forcinha, ela estava numa posição ruim pra conseguir ajudar, ela só pensava em desistir. Eu disse que pra cima o bebê não ia, ela tinha que ajudar a sair. A Socorro disse pra ela tentar pegar no ferro da cama na próxima força e eu nem sei se a Socorro pediu, se eu pedi licença, só sei que na 3ª força me enfiei atrás dela e ergui suas costas até ela alcançar o ferro, força, força, força....nasceu. Não chorou e a danada da Kátia “Nasceu nada!” Essa menina é jogo duro! Depois riu, chorou, abraçou a mãe, viu o bebê (não sei o nome) e continuou reclamando, dando uns gritinhos finos de dor enquanto suturavam a episio. A mãe dela falava pra ela parar de reclamar, que tinha certeza que pra colocar o neném lá dentro ela não tinha reclamado! O bebê dela era grande pra um prematuro, mas não ficou com ela. Ela dormiu na sala de observação e foi para o quarto. Antes de ir embora subimos (eu e Guta) pra ver a Janete e a Gislaine, encontramos a Kátia, reclamando com sua voz fina e chorona que ainda não tinha visto o bebê. Não pudemos fazer nada, nem sabíamos onde o bebê dela estava.
Maria Aparecida, não sei a idade, nem o tempo de gestação. Chegou na maternidade na noite anterior, por volta das 20 horas.
A gente achou que depois da Kátia ela seria a primeira a dar à luz. Ela chegou a ir para a sala onde a Kátia pariu, foi fazer umas massagens, eu não sei, não acompanhei. Depois ela sentou na bola suíça pra ajudar a encaixar o bebê, caminhou, tomou banho, 1000 coisas e nada. De repente o trabalho de parto dela estacionava. Ela ficava um tempão sem contração. Eu saí pra almoçar com a Guta e quando eu voltei a Ana Cris pediu pra eu ajudar a Zig com a Cida. Ela tinha sido transferida para uma sala de cirurgia, mas ainda estavam tentando o parto normal. Ela estava exausta, tentaram várias vezes a manobra de Cristeler (nem sei se escreve assim), mas o Lucas nem se movia. A Zig também estava muito cansada, mas não quis sair de perto da Cida. Chamaram 2 médicos. Eles avaliaram e decidiram dar uma anestesia nela, raquidiana, tentariam mais uma vez e se não desse, cesárea. Mudaram a Cida de sala mais uma vez e eu não acompanhei mais, até a hora que o bebê nasceu. Fui vê-lo no berçário, estava com uma marca no rosto. Acabaram usando o fórceps. Depois fui vê-lo já com a mãe e o pai na sala de observação. Estava mamando. Quando o marido foi embora, a Cida ficou me contando sobre o rompimento da bolsa e sobre a sobrinha de 5 anos, até que ela pareceu cansada e eu saí da sala pra que ela pudesse dormir. Não os vi mais, depois disso.
Maria Gislaine, 23 anos, casada com o Júlio (o menino da camiseta amarela), esperando a Júlia, chegou à maternidade às 5 da manhã, o bebê nasceu às 10:50h.
A Gislaine é a mulher que eu acompanhei. Ela estava com um a cara muito invocada. Brava mesmo. Gemia baixinho, segurando a respiração. As vezes soltava um ai, ai, ai. Aceitou a minha mão rapidamente e aos poucos a respiração foi ficando mais solta. Ela não conseguia virar de lado, sentia mais dor. Ficou difícil fazer alguma coisa durante as contrações, além de segurar as mão dela. Entre uma contração e outra, ela me contou sobre o Júlio, a mãe, a Júlia, onde morava, um pouco sobre sua vida. Ficava visivelmente mais calma quando recebia um cafuné. Gostou do recurso da bolsa de água quente nas costas, mas como não conseguia ficar de lado, usamos pouco. Conseguiu sentar, caminhou um pouco pelo corredor, mas queria mesmo era ficar deitada. Ela ficava muito incomodada quando vinham fazer o toque. Quando chegamos já tinham feito uns 4 e durante o tempo que fiquei com ela, mais 5. Pra ela doía muito, não aguentava mais tanta gente pondo a mão. Durante todo o trabalho de parto pude perceber o olhar ao qual a Ana Cris se refere. Parecia que ela estava olhando através de mim, nossos olhos se encontravam, mas ela definitivamente não estava ali. Depois, conversando com as outras meninas, conclui que deve ser alguma defesa do psiquismo da mulher, por que se ela estiver totalmente presente nesta hora, acaba entregando os pontos, então ela meio que sai do corpo pra poder suportar. Os residentes disseram que a nossa presença deixou a Gislaine muito diferente, que antes de chegarmos ela estava dando muito trabalho. Quando a Kátia saiu da sala pra ter o bebê, eu perguntei pra ela se eu podia sair um pouco, ela consentiu. Quando eu voltei ela estava agitada, cercada de voluntárias e residentes. Abri um espaço e segurei a mão dela de novo. Ela estava prestes a parir. Não tinha sala para colocá-la e arrumaram tudo pra que ela desse à luz na cama mesmo. Fiquei ao lado dela, ajudando a suportar a dor da episio, doulando também a mãe dela, que estava muito nervosa, com medo de desmaiar. Alguém subiu na barriga dela e depois disso eu passei a ser mais enérgica quando ela tinha que fazer força. Deixei que se pendurasse em mim e eu erguia meu corpo pra que ela pudesse erguer mais o dela. A cama em que ela estava não tinha o ferro pra segurar. Pedi que segurassem a cama, por que a força era tão grande que a cama saia do lugar. Demorou um pouco mais do que para a Kátia, mas deu tudo certo. A Júlia começou a chorar, a mãe da Gislaine também e a Gislaine olhava pra mãe e dizia sorrindo e chorando: “ Ô mãe, ela é linda!” A feição dela era outra, completamente diferente agora! Colocaram a Júlia no peito dela e ela não quis mamar. Agachei do lado da cama, agradeci por ter me deixado participar daquele momento, ela também me agradeceu. Acho que naquela hora nasceu a Júlia, a mãe Gislaine, a vó (não sei o nome) e a doula Pati Merlin. Fiquei ali, agachada um tempão, fizeram a sutura da episio, levaram a Júlia embora. Eu disse pra ela que no começo fiquei com um pé atrás, por causa da cara de brava dela, parecia que a qualquer momento ela ia se revoltar. Ela achou graça, disse que estava irritada, mas brava não e que foi muito bom poder contar comigo. A mãe dela também agradeceu. Conto isso não como mérito meu, mas pra que as pessoas percebam como é importante a presença de alguém, qualquer pessoa, afinal a gente nem se conhecia. A Ana Cris tirou uma foto, eu acho! Fui vê-las de novo na sala de observação, agora a pequena já estava mamando e o pai babão, do lado. Tirei uma foto das duas. Antes de ir embora, subi no quarto pra falar tchau. Só fui sentir a dor no meu corpo no dia seguinte. Minhas pernas e meu bumbum doíam muito, parecia que eu tinha tomado uma surra. Achei que era por causa do estágio todo, o dia inteiro de pé. Demorei pra perceber que a dor vinha da posição em que eu fiquei naqueles poucos minutos do expulsivo da Gislaine, onde EU fui o ferro da cama. Valeu a pena. Valeu MUITO a pena.
Janete – nati morto
Eu não sei exatamente como foi, mas depois que a Nilda foi pra cirurgia, a Guta foi procurar o que fazer e encontrou a Janete, sozinha numa sala. Existe uma sala especial para mulheres que estão em processo abortivo ou em trabalho de parto de bebê já morto. Acho que a Janete deu uma tremenda sorte, porque a Guta é psicóloga e trabalha com gestantes. Ela é doce, atenciosa, e muito inteligente. As duas puderam se ajudar. O “trabalho” que a Guta fez com ela, foi lindo! Talvez ela possa contar um dia. No caso, a Janete estava com o bebê morto no ventre. Não sei maiores detalhes, mas sei que acabou bem. Eu vi o bebê dela no berçário, foi a primeira vez que chorei naquele dia. No final do dia fomos nos despedir dela também.
A turma da tarde.
Débora, Marcos, Pedro Gabriel, Dr. Jorge Khun e a versão externa.
A Débora todo mundo conhece aqui da lista. O teimosinho do Pedro também.
Ela, a barriga, o Pedro e o maridão foram nossas cobaias no curso, sábado. Ajudaram a demonstrar posições confortáveis para o trabalho de parto e outras coisas mais. Teve uma hora que o Pedro ficou parecendo um alto relevo na barriga dela! Deu pra ver direitinho a cabecinha dele, apontando pra cima.
Não sei se a Débora foi fazer a manobra lá neste hospital por que a Ana Cris estava lá, mas deve ser. O Dr. Jorge (que eu nunca tinha visto na vida), cruzou comigo no corredor e veio cheio de braços me cumprimentando, “ Olá, doula! Como vai?” Uma gracinha, ele! Por causa dele e da manobra, veio um monte de médico e residente pra sala, a mesma sala das meninas que estavam em trabalho de parto à tarde, elas ficaram super impressionadas, por que a tal manobra é bem agressiva. Tentei explicar para algumas delas o que estava acontecendo, mas acho que quem não tomou a pílula da Matrix, não entende tamanho sacrifício. A Débora chorou de dor, mas foi muito corajosa. A Ana Cris segurando a mão dela, o tempo todo. Pena que nem assim o Pedro se convenceu que TEM que virar de cabeça pra baixo pra nascer natural! A Débora ficou muito chateada, mas ainda falta um tempinho pra ele nascer e se Deus quiser e a gente rezar bastante, esse menino vira!
Neide, não perguntei a idade, nem o nome do marido, nada...é estranho como as coisas se estabelecem, com cada uma é diferente.
Ela foi a primeira a chegar de tarde, super tranqüila, tinha a dieta leve liberada e comeu tudo o que deram pra ela. Foi no banheiro várias vezes, passeou pelo corredor e ficou bastante tempo na sala dos acompanhantes conversando com o marido. Ela foi uma que não entendeu muito bem o esforço da Débora pra tentar virar o Pedro. Dizia com a maior naturalidade “ Faz logo uma cesárea”. Eu expliquei pra ela e pro marido, quais são os planos da Débora e do Marcos (o que eu sei, pelo menos), mas mesmo assim ela não se convenceu, acha que cesárea não é tão ruim. Talvez por isso, ela tenha tido uma! Ela tinha contrações, mas não sentia dor nenhuma. Chegou com 1,5 cm de dilatação e chegou aos 4 cm em mais ou menos 2 horas. Percebi que conforme outras mulheres foram chegando, ela começou a ficar mais ansiosa. Não sei como foi a evolução dela depois disso, infelizmente fomos embora antes de saber qual seria o destino delas. Só sei que foi uma cesárea, por que a Débora falou. O nome do filho dela é Hudson Taylor. O médico que passou lá de tarde tirou o maior sarro da cara dela e da Fabiana, por causa disso. Coitadas, elas nem perceberam, ficaram rindo com ele! Se bem, que o tal médico até tem razão. Hudson Taylor é de lascar o cano!
Fabiana, não sei idade, nem nada, só que o nome do bebê é Jhamilly e que o médico tirou sarro da cara dela também.
Ela parecia ser novinha, uns 20 anos, no máximo. Estava sozinha no hospital. Visivelmente assustada e com muita dor. Ela quis por que quis ficar olhando a versão da Débora. As voluntárias queriam de todo jeito que ela deitasse e parasse de olhar, e eu dizia “ Que bobagem, isso não vai acontecer com nenhuma dela, todas estão com seus bebês viradinhos”. Não que a versão não fosse importante, ou que a Débora estivesse toda feliz, mas querendo dizer que não tinha nada de mais olhar, cada um tem que passar pelas experiências que a vida lhe proporciona, sem maiores dramas.
Também não acompanhamos a evolução do trabalho de parto até o final, mas parece que ela foi pra faca também. Que triste. Fiquei com a impressão que as coisas desandaram quando fomos embora.
Cristina, 18 anos, esperando a Giovana ou o Gabriel, ela não sabia o sexo do bebê.
Chegou super tranqüila e assim ficou durante todo o tempo em que a acompanhamos. As dores das contrações eram muito sutis, segundo ela. Por algum motivo, a médica que assumiu depois que a gente foi embora, achou melhor estourar a bolsa dela e colocar soro (ela chegou a 6 cm sem tomar nada). A pobre passou a sofrer horrores. Isso também foi a Débora que contou. E também me entristece muito.
Secundina, boliviana.
Foi a última a chegar. A Socorro ainda teve tempo de andar um pouco com ela,
Fez umas massagens e deu umas reboladas abraçada com ela. Os residentes disseram que as bolivianas adoram andar, raramente ficam deitadas esperando o trem passar. Um deles até disse “É isso ai, andar ajuda a abrir a bacia pro bebê”
As voluntáriasCoisa engraçada! As voluntárias ficaram muito incomodadas com a nossa presença.
Botaram defeito em tudo, da maneira como falávamos à nossa iniciativa de pedir aos médicos para passear com as parturientes no corredor. Desdiziam tudo o que a gente falava. Durante a manobra da Débora, fizeram cara de reprovação e disseram que as outras não podiam estar vendo “aquilo”. Elas tem a feia mania de chamar todo mundo de “mãezinha”. De repente, começaram a chamar todas pelo nome...era o que nós fazíamos. A princípio, nem perguntaram quem éramos, ficaram só olhando com desconfiança. Depois criaram coragem para perguntar, mas ficaram se reunindo pelos cantos, falando baixinho, com cara de “vê se pode?” A máxima da ciumeira foi quando uma delas me cutucou (eu estava agachada na frente da cama da Neide, conversando com ela sobre a manobra da Débora) e disse: “ Viu...a gente aqui ajuda a fazer essas coisas (ela estava trocando o lençol da cama), a gente não fica só conversando, por que tem muita coisa pra fazer!” Eu fui levantando devagar, olhando pra ela com cara de “?” e perguntei se ela queria ajuda. “Não, não, eu só estou falando, pode continuar o que você está fazendo!” Pra cada uma de nós teve uma voluntária fazendo algo parecido. Eu achei muito estranho. Entendo a defesa do território, mas um trabalho não tem nada a ver com o outro. Elas deveriam ter sido avisadas que iríamos lá, mas quem tinha que avisar, esqueceu. Se eu estivesse no lugar delas, teria ido embora, ao invés de me estressar. Fiquei com pena, mesmo sabendo que este não é um sentimento bacana.
Ah, e tinha também uma senhora, velhinha, com longos cabelos brancos, que dava palpite em tudo! A Guta disse que ela era secretária...mas parecia a dona do hospital...lamentável!
Os residentes
Todas as coisas que a gente reprova e vive condenando na postura dos nossos médicos, estavam estampadas na cara dos pobres residentes.
Eles nunca tinham visto o trabalho de uma doula, mas reconheceram de imediato o efeito da nossa presença sobre o comportamento das meninas da manhã. Quando as coisas acalmaram, já depois do almoço, eu estava com a Neide na sala de pré parto, estávamos fofocando sobre as notícias da revista que ela levou. Eles entraram na sala e ficaram conversando. De repente baixou um silêncio pesado e um deles perguntou sobre o trabalho de doula. Desatei a falar e eles TODOS acharam muito legal, apoiaram a iniciativa, não falei sobre intervenções, até por que é um hospital escola e eles fazem TUDO que se pode imaginar em matéria de intervenção...eles até chegaram a dizer que seria muito bom se todas as parturientes tivessem uma doula com elas. Quem sabe a semente tenha caído em solo fértil?
Os médicosNão sei bem reconhecer quem é médico e quem não é. Tinha muito residente e como todo mundo usa a mesma roupa, até eu fui chamada de doutora! Mas a Mônica perdeu a cabeça uma hora...ela disse que os acompanhantes ficam “perturbando” querendo saber tudo, o tempo todo. Talvez esse problema fosse resolvido com a permanência deles ao lado da mulher em tempo integral. Teve um médico, que eu só sei que é médico por que a Neide falou, acho que o nome dele é Paulo...novinho de tudo, esse cara está no caminho pra disputar espaço com o Ric...rsrsrs. Com ele, tudo podia! Quer andar? Pode! Tá com fome? Dieta leve!! Tá com sede? Ih, vai lá tomar um copo de água. Ele não colocou soro na Cristina, quando ela chegou, ele avaliou, mediu a dilatação, perguntou das dores e decidiu que não precisava. Super tranqüilo. Gostei dele. Pena que a médica que substituiu ele, era exatamente o oposto! Segundo a Débora, ela era uma pessoa muito rude. Ainda bem que eu não vi isso!
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