Um TP inspirador, o parto nem tanto.
Quando eu cheguei quase às 19h, a E. dividia a sala de TP com a M.
Ela estava acompanhada da mãe que era um misto de angústia e felicidade, apoio e apreensão. O toque havia sido feito a pouco, 7cm e a E. tinha acabado de sair do banho, que foi tomado com a intenção de aliviar o calor e não de ajudar no TP. Ela estava deitada, sem soro e tendo contrações ritmadas.
A mãe sai do quarto pra trocar de lugar com a nora. Enquanto ela não chega, eu aproveito pra conversar com a E. Explico o meu papel e o que eu acho que ela deve fazer para que as dores fiquem mais suportáveis, falo das posições, das massagens e do quanto o TP depende dela, etc.
Eis uma das mulheres em TP no voluntariado mais receptivas de todos os tempos. Ela estava sentindo muita dor, uma enorme vontade de gritar e se mexer, mas estava com medo. Não precisou de muito incentivo para mudar tudo.
A cunhada entra e fica ao nosso lado, segurando a outra mão da E., nos ajudando nos movimentos, etc. Ela sentou, ergueu as pernas, fez posição de borboleta, saiu da cama, caminhou, rebolou, agachou, gritou, gemeu, descansou, permitiu massagem, etc, etc. Ela fez tudo o que pôde!
Num determinado momento o residente entra no TP e diz: -Não grita, não! Gritar prende o bebê! E quando ele saiu eu disse: -Faça o que te der a cabeça, só não se desespere, seu corpo sabe como deve agir... Não é uma questão de querer ir contra o médico, mas queria ver se fosse com ele... Se ele ia querer gritar, gemer ou ficar calado.
Menos de uma hora depois, ela estava com dilatação completa. Neste toque, estávamos eu, a mãe, o médico e o residente. Fizemos festa pra ela, parabenizando o esforço e explicando os próximos passos. O médico pede à enfermeira que a leve ao CC e me pergunta se eu quero ir. Hum... mudanças! Nem foi preciso pedir!
É claro que eu fui! De novo temos uma mulher deitada de barriga para cima, pernas no estribo, o residente falando pra fazer força e querendo cortar (o médico mandando esperar, mas ela não escapou da epsiotomia), o médico pressiona a barriga dela, não chega a ser um Kristeller, o residente não pára de mexer na vulva dela, como que alargando a saída. Isso me incomoda muito, dá muita vontade de falar pra ele parar, pra tirar a mão!
Nasce o JP. Um bebê bem grande, já cheio de dobras. Tudo bem com ele, fazem os procedimentos de rotina (aspirar vias, limpar, etc), enrolam o pequeno num pano e trazem pra E. ver, ela dá um beijo nele, conversa e a pediatra já ia saindo quando eu disse:
-Ele não pode ficar um pouco mais? Posso colocar o bebê no peito dela? A pediatra olha pro médico, ele consente e ela me pede para levar o bebê ao berçário depois, por que ela não pode esperar.
O que acontece é que a UTI neonatal fica em outro andar e a pediatra vem de lá para atender os partos. Então ela não pode ficar. O JP. ficou uns 20 minutos com a mãe. Ergui a roupa dela e o coloquei deitado próximo ao seio. Ele não mamou, mas ficou lá sendo babado pela mãe. Aproveitei e falei um pouco (bem pouco mesmo) sobre vínculo e amamentação com ela.
A enfermeira do CC comenta que este é o verdadeiro parto humanizado! Mordo a língua pra não responder. Falta tanto ainda.... mas tudo bem, um passo de cada vez.
Depois levei o bebê pro berçário, onde ele tomou banho, vacinas, foi trocado e admirado pela família, e voltei pro CC. A expulsão da placenta demorou bastante, ela precisou tomar ocitocina pra ajudar e depois que eu saí do CC, ela teve uma enorme queda de pressão e uma pequena hemorragia.
A maternidade estava cheia hoje e muitas mulheres passaram por consulta. Acho que não comentei aqui, mas quando o médico entra na sala com elas, precisa haver outra mulher e quase sempre sou eu. Também passei nos quartos para a tradicional conversinha do peito com uma ou outra mãe.
Ah! Hoje tinha uma menininha japonesa, coisa mais fofa! O cabelo dela era pretinho e espetado, como os dos bebês orientais, só que tinha as pontas bem claras! Parecia que ela tinha feito luzes! Pode?
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